Capital do calçado infantil: como Birigui se tornou um polo?

Situada no noroeste paulista, Birigui conta com, aproximadamente, 110 mil habitantes e é um dos principais polos industriais do estado. Conhecida como a “Capital do Calçado Infantil”, grande parte de seu faturamento vem da produção e exportação de calçados para crianças.

Com alta concentração de fábricas e lojas voltadas ao segmento calçadista, a cidade é considerada um polo latino-americano. De acordo com dados da Prefeitura do município, em 2010, o faturamento estimado foi superior a R$ 800 milhões, com a produção de mais de 57 milhões de pares.

No entanto, a cidade não se tornou esse centro calçadista “do nada”. Essa história começa nos anos 40, passa pelos anos 80 e vive até os dias de hoje. Para saber um pouco mais sobre essa trajetória, leia o post.

Selaria e Sapataria Noroeste

Em 1934, desembarcaram do Japão ao Brasil a família Tokunaga. Até 1941, ficaram em Araçatuba-SP, cidade vizinha à Birigui. Nesse período, eles chegam e abrem a primeira oficina de calçados biriguiense: a Selaria e Sapataria Noroeste.

Esse local produzia botinas para venda aos consumidores, que, por sinal, tinham alta demanda, uma vez que a maior parte da população da época trabalhava em zonas rurais. Além das botinas, sapatões, sandálias e chinelos também eram fabricados e vendidos.

Conforme o comércio foi crescendo, a família Tokunaga foi se especializando no segmento. Em 1945, comprou lixadeiras, chanfradeiras, balancim, rachadeira de couro e máquina de pesponto de solados. Era o início da produção calçadista.

família tokunaga Birigui
Registro da família Tokunaga, em 1944. Fonte: Historiografia de Birigui.

Antônio Ramos de Assunção

Um dos grandes responsáveis pelo pioneirismo de calçados em Birigui foi Antônio Ramos de Assunção. Vindo de Gabriel Monteiro, município próximo à cidade, Antônio vem a Birigui em 1943, com o propósito de trabalhar em uma das duas oficinas biriguienses: a Selaria e Sapataria Noroeste e a Fábrica de Calçados Birigüiense.

Com mão de obra escassa, ainda era dificultoso encontrar profissionais que entendiam do ramo. Após alguns anos, Antônio, junto de seu irmão, Francisco, resolvem abrir uma fábrica, a Popi, considerada a primeira indústria calçadista da história.

A fábrica começa seus trabalhos em 1958, ainda com o nome de Fábrica de Calçados Ramos de Assumpção Ltda. e com apenas seis funcionários.

capital do calçado infantil

Os anos seguintes foram de extremo sucesso para os irmãos Assunção. O empreendimento foi crescendo. Em 1961, já contava com 50 empregados e cerca de 400 pares produzidos por dia. No início da década de 80, já sem os irmãos, a Popi “empregava 980 funcionários e produzia 11 mil pares diários. Em 1994, atingiu seu ápice: 20 mil pares diários e 2.200 colaboradores. Anos depois, devido a problemas financeiros, a fábrica fechou, mas a marca foi vendida.

Antônio Ramos Assunção, que saíra do negócio em 1962, fundou outra grande marca de calçados biriguiense: a Kyuti Indústria e Comércio de Calçados, que, em 1986, foi considerada um das vinte maiores empresas do Brasil no setor.

família tokunaga birigui
Registro da fábrica da Kyuti, em 1988. Fonte: Museu Birigui.

Por que calçados infantis?

O rótulo de Capital surgiu em 1971, em uma publicação do caderno especial do “Jornal Exclusivo”, que destacou Birigui como “Capital Industrial do Sapato Infantil”, muito por conta do fortalecimento do setor na década.

Mas a “escolha” pelo segmento infantil veio dos próprios irmãos Assunção, que, em São Paulo-SP, trabalharam em uma fábrica com a produção de calçados do tipo. Além disso, notaram que a concorrência seria menor, uma vez que Franca-SP já se mostrava um polo nos calçados adultos, Jáu para masculinos, e o Rio Grandes do Sul para feminos adultos.

Década de 80: consolidação

Os anos de 1980 chegaram para consolidar Birigui como principal polo industrial e exportador calçadista do Brasil. A geração de empregos nessa época foi alta, e a proliferação de fábricas e lojas de calçados também alcançou níveis jamais vistos no país.

211 unidades fabris foram instaladas no município. A produção, nessa década, era de aproximadamente 30 milhões de pares anuais, com mais de 9 mil trabalhadores envolvidos no processo. Esse período foi responsável por uma revolução na modelagem dos calçados, com o predomínio do couro.

Grandes fábricas e marcas surgiram nessa época:

• 1982 – Indústria de Calçados Biri
• 1983 – Indústria de Calçados Finobel
• 1983 – Indústria de Calçados Klin
• 1986 – Indústria de Calçados Art Pé
• 1986 – Indústria de Calçados Pé com Pé
• 1987 – Indústria de Calçados Pampili
• 1988 – Indústria de Calçados Brink
• 1988 – Indústria de Calçados Ortopasso

“Fantástica Fábrica de Sapatinhos”

O novo milênio chegou com muito otimismo pelo lojistas. O crescimento da economia, mão de obra qualificada e investimentos federais amplificaram o cenário calçadista biriguiense.

Grandes empresas “apostaram suas fichas” na ampliação de seus barracões e também na exportação dos calçados. Houve certa dificuldade, já que a China se mostrou uma forte concorrente.

Em 2003, o Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui (Sinbi) fez uma doação de 110 mil pares de calçados ao programa Fome Zero, promovido pelo Governo Lula (2003-2010).

fantástica fábrica de sapatinhos
Presidente Lula (à esquerda) recebe de Samir Nakad (à direita) uma estatueta em alusão à doação dos 110 mil pares de calçados ao programa Fome Zero.

Em 2007, Birigui teve uma importante participação na Couromoda, uma das mais importantes feiras de calçados do Brasil. No evento, criou-se um estande educativo, que mostrava como era o processo de produção de calçados infantis. Esse projeto foi apelidado de “Fantástica Fábrica de Sapatinhos” e fez muito sucesso nos quatro dias de feira.

Birigui ainda é o maior polo calçadista infantil do Brasil e da América Latina. Embora não viva o auge das décadas de 70 a 90, a cidade ainda é grande geradora de empregos e oportunidades no setor.

Se você quiser conhecer um pouco mais da história do setor de calçados de Birigui, a prefeitura da cidade, em parceria com o Sinbi, criou uma espécie de “Museu online”, que mostra, década a década, a trajetória industrial da cidade. Clique aqui para acessar.

Para ficar por dentro de mais notícias do segmento calçadista, basta se inscrever, logo abaixo, na nossa newsletter e receber, semanalmente e diretamente no e-mail, todas as novidades!

 

Compartilhe com seus amigos

Facebook
WhatsApp
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *