Para manter uma loja de calçados funcionando, é necessário que o empreendedor assuma importantes obrigações financeiras relacionadas aos funcionários, à manutenção do local e da mercadoria e até mesmo questões burocráticas.
Como a transitoriedade do dinheiro em uma empresa é alta, muitas vezes não há ativo em caixa para quitar esses pagamentos. Por isso, é preciso que o empreendedor saiba como calcular capital de giro necessário e administrá-lo durante o mês.
No post de hoje, vamos explorar melhor o que é o capital de giro, qual a sua importância para uma loja de calçados e como é possível calculá-lo segundo as necessidades do seu negócio. Boa leitura!
Sumário
Afinal, o que é capital de giro?
Como já dito, em sua loja de calçados, é provável que você tenha diversas obrigações financeiras: salários dos funcionários, aluguel do imóvel, impostos, contas de água e luz, pagamento dos fornecedores e outras eventuais despesas.
Teoricamente, o capital para quitar esses pagamentos deve estar em caixa, porém nem sempre isso ocorre. Por exemplo: se você fez uma compra com um fornecedor, até que venda aqueles calçados e lucre, o estoque representa dinheiro parado.
Além disso, no comércio, é comum que haja sazonalidade. Determinados períodos do ano vendem mais que outros, e independentemente do mês, há uma série de custos para manter o negócio funcionando.
O mesmo ocorre quando o cliente faz uma compra a prazo. Supondo que você venda um calçado parcelado em seis vezes, durante os meses até o recebimento integral do valor, você terá que ter dinheiro para fazer seus pagamentos.
O capital de giro representa justamente a quantia necessária para para arcar com essas obrigações. É um montante que, como o nome sugere, está em constante movimento para custear as despesas de sua loja de maneira saudável.
Para garantir o capital de giro, é necessário que você faça um planejamento financeiro adequado, que contemple os ciclos do seu negócio, incluindo a entrada e saída de dinheiro no caixa.
Como funciona o capital de giro
Para tornar mais claro como o capital de giro funciona no balanço de caixa de uma empresa, vamos fazer um pequeno exercício. Tenhamos em mente que a Loja A vende uma média diária de R$ 1 mil, em um prazo médio de recebimento de 30 dias.
O fluxo de caixa da Loja A ficará da seguinte forma:
Dia | Rendimento em vendas | Recebimento | A receber |
1 | R$ 1.000 | R$0 | R$ 1.000 |
2 | R$ 1.000 | R$ 0 | R$ 2.000 |
3 | R$ 1.000 | R$ 0 | R$ 3.000 |
Até que se vença o prazo médio de recebimento, a empresa não terá o dinheiro ativamente em seu caixa. Quando esse período for superado, parte será recebida, porém o valor “a receber” continuará existindo virtualmente no balanço da loja:
Dia | Rendimento em vendas | Recebimento | A receber |
30 | R$ 1.000 | R$ 0 | R$ 30.000 |
31 | R$ 1.000 | R$ 1.000 | R$ 30.000 |
32 | R$ 1.000 | R$ 2.000 | R$ 30.000 |
Ao fim desse ciclo, parte do dinheiro entrará no caixa da empresa e será reinvestida, como forma de arcar com as obrigações financeiras. Ou seja, ele existiu apenas virtualmente no caixa e, assim que foi recebido, foi reutilizado para novos fins.
Por ser um valor que tem como objetivo apenas a circulação para que a empresa continue operando, trata-se do capital de giro.
Prazo médio de recebimento e pagamento
Para exemplificar como funcionará o fluxo no caixa da sua empresa, fizemos um exercício demonstrando os prazos médios de recebimento e pagamento. Isso indicará por quanto tempo a empresa precisará de capital de giro para manter-se.
Prazo médio de pagamento
Para calcular esse fator, você deve observar quantos dias são necessários para que você pague os seus fornecedores. Há muitos empreendedores que preferem realizar os pagamentos à vista, enquanto outros pagam os valores em parcelas. Existe ainda a possibilidade de pagar metade a prazo e metade à vista.
Suponhamos que metade dos seus pagamentos é feita à vista, e o restante em um prazo de 30 dias. Fazendo uma conta simples, você verá que seu prazo médio de pagamento de contas é de 15 dias.
Se seus pagamentos forem feitos exclusivamente à vista, o prazo médio será de 1 dia. Se forem todos feitos em 30 dias, o prazo será esse.
Prazo médio de recebimento
A ideia é a mesma, porém ao contrário do tópico anterior, este é o prazo médio que você demora para receber dos seus clientes.
Exemplo: em dez vendas você teve cinco clientes que pagaram à vista, e cinco que pagaram em 60 dias. Calculando a média dos valores, você chega ao resultado de 30 dias de prazo de recebimento.
Tomando como base os mesmos exemplos, se subtrairmos o prazo do pagamento (15 dias) do prazo de recebimento (30 dias), podemos observar que restam 15 dias em que a empresa ainda não terá em caixa o dinheiro para arcar com suas contas.
Durante esse período, o capital de giro se fará necessário, e os dias subsequentes representam a lucratividade da empresa. É claro que essas médias são variáveis, entretanto você pode manter esse raciocínio como base para planejar o caixa da sua loja.
Como calcular o capital de giro necessário
Como cada empresa tem despesas diferentes, o capital de giro ideal para cada uma também não será igual. Para saber qual é o montante necessário para a sua loja de calçados, você terá de fazer alguns cálculos.
Antes de mais nada, é preciso que você tenha um controle financeiro diário. Esse fator não diz respeito somente a gastos grandes, como reposição de estoque ou folha de pagamentos, mas também a valores menores, como a compra de produtos de limpeza ou insumos para os funcionários.
Utilizando esse controle, você terá que encontrar quais os custos fixos mensal e variável para manter seu negócio ativo durante o mês, incluindo todos os gastos.
Custo fixo mensal
São todos os valores invariáveis (ou pouco variáveis) necessários para manter seu comércio funcionando. Alguns exemplos são salários de funcionários, aluguel, internet e alguns tipos de impostos.
Custo variável mensal
Esse custo diz respeito aos valores em que há variação todos os meses. Alguns exemplos são contas de água e luz, compra de produtos de limpeza ou insumos e impostos ligados às vendas.
Após encontrar todas as variáveis, chegou a hora de calcular o capital de giro necessário para a sua loja de calçados. Será necessário empregar uma equação simples, substituindo as lacunas pelos valores encontrados.
c. fixos + c. variáveis = capital de giro necessário
Tomando como exemplo uma loja de calçados que mensalmente gere R$ 5 mil em despesas fixas e R$ 3 mil em despesas variáveis, o capital de giro necessário será de R$ 8 mil reais.
Dessa forma, você sabe que, independentemente da situação, o caixa da empresa deve fechar com R$ 8 mil positivos.
Capital de giro líquido
Até o momento, utilizamos diversas situações para exemplificar como o capital de giro funciona em uma empresa em um cenário ideal. Porém, evidentemente, podem acontecer adversidades que façam com que essa verba seja subtraída do seu orçamento.
Essa situação pode ser chamada de diminuição do capital de giro, e ocorre por diversos fatores, como o aumento repentino de uma despesa, a alta inadimplência de clientes, a redução das vendas, entre outros.
Nesse caso, surge o conceito de capital de giro líquido. Esse valor representa a quantia atual que sua loja tem disponível para sanar suas obrigações financeiras, e pode ser calculado por meio de uma equação simples baseada em duas variáveis: o ativo circulante e o passivo circulante.
A primeira diz respeito à somatória de ativos que a empresa tem atualmente, seja em caixa, no banco, em investimentos, a receber ou em estoque. Aqui, inclua todos os números positivos da sua loja.
A próxima representa justamente o oposto: todo o dinheiro que sairá do caixa durante o mesmo período, como pagamento a fornecedores, empréstimos bancários, salários de funcionários e impostos. A equação ficará da seguinte forma:
ativo circulante – passivo circulante = capital de giro atual
Exemplo: se uma empresa tem o ativo circulante de R$ 7 mil e um passivo circulante de R$ 5 mil, isso significa que R$ 2 mil do montante equivale ao capital de giro atual.
Em algumas ocasiões, o passivo circulante é maior que o ativo, fazendo com que o capital de giro seja negativo. Nesse tipo de ocasião, é muito comum que os empreendedores busquem por empréstimos bancários.
Esse fator, a longo prazo, acaba sendo muito negativo. Basta lembrar que o juros do empréstimo farão com que seu ativo circulante seja ainda maior, gerando um círculo vicioso que pode implicar inclusive no fechamento de portas.
Claramente, essa não é uma situação ideal, mas é possível realizar ajustes em sua empresa para que ela esteja em um cenário saudável.
Como gerenciar seu capital de giro
Agora que você já sabe como calcular em números o seu capital de giro, é preciso entender sua gestão. Afinal, trata-se de um valor importante para que o negócio continue caminhando bem.
Controle o fluxo de caixa
Como já dito antes, o controle financeiro é parte essencial da gestão de uma empresa. Para que você consiga destinar um valor mensal ao capital de giro, é de extrema importância que faça uma boa administração do seu fluxo de caixa.
Lembre-se de registrar todas as entradas e saídas no caixa da empresa, bem como a data e a finalidade. Uma dica é utilizar softwares de gestão, que costumam ter uma interface simplificada e diversas ferramentas.
Organizando essa parte, será mais fácil perceber com antecedência como estão as suas vendas no mês, quando serão os pagamentos e recebimentos mais próximos e se será necessário investir algum recurso a mais no mês.
Evite a inadimplência dos clientes
Pode parecer óbvio, mas a inadimplência de clientes é muito nociva à saúde do seu negócio. Com o excesso de contas a receber, o capital de giro será diretamente afetado, já que houve um investimento que permanece sem o retorno.
Alguns lojistas têm receio de fazer cobranças, pois pode parecer algo rude. Para evitar esse raciocínio, estabeleça em suas contas um limite máximo de dias possível antes de falar com o cliente. Após esse tempo, converse com ele de maneira tranquila, explique a situação e peça que quite a dívida.
Além disso, reveja os prazos que sua loja oferece e adapte para algo que esteja mais condizente com a realidade. Mesmo que isso implique em perder algumas vendas, é sempre melhor manter a empresa em uma situação estável.
Faça a gestão de estoque
Como já abordamos também, o estoque representa uma quantia de investimento sem movimentação e retorno. Não gerenciá-lo da maneira certa pode acarretar em inúmeros prejuízos para sua loja de calçados.
O primeiro passo é definir um estoque mínimo para que a loja funcione. Você pode calcular esse fator observando as entradas e saídas do fluxo de caixa, considerando a época do ano e a sazonalidade.
Além disso, organize o espaço físico de armazenamento a fim de evitar prejuízos por produtos com pouca rotação. De tempos em tempos, verifique se está tudo bem ordenado e se é necessário fazer alguma mudança.
Como foi possível perceber, saber como calcular o capital de giro é essencial para o bom funcionamento de uma loja de calçados. Esse valor, porém, está atrelado a diversos outros orçamentos e indicadores. Como empreendedor, é necessário que você realize uma gestão próxima e saiba fazer os ajustes que a empresa precisa.
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